quinta-feira, 3 de maio de 2012

A minha longa travessia do deserto. Marrocos. (Parte III)

O deserto quebrou a ideia preconcebida que eu tinha dele. Na medida em que é composto por muito mais que areia e dunas. As paisagens foram uma surpresa para mim, pelas diferentes características e formatos que assumem. Sendo assim:

 

Encontramos secções em que não se avista qualquer forma animal ou vegetal. A falta de presença, a aridez do solo e as muitas rochas negras e rígidas dificultando o caminhar transportaram-me para um imaginário no qual a dureza do deserto se impunha perante os povos nómadas que o atravessam.


Ao longo do percurso, a paisagem vai sofrendo alterações. Começam a surgir arbustos rasteiros e plantas das quais o dromedário se alimentava. Ao passo que na planície notei que existem pastores com grupos de dromedários aproveitando-se deste facto e de haver alguns pontos de água nas redondezas. No horizonte, elevavam-se montanhas e alguns pássaros acompanhavam a nossa rota, esporadicamente. 


Timidamente, surgem algumas dunas envoltas por vegetação, ao passo que o solo, mais confortável face à inexistência de rochas obrigou-nos a um maior desgaste físico dado ser menos compacto e haver muito mais areia.


Do ponto de vista metereológico, de um momento para o outro a nossa realidade pode alterar-se bastante o que nos obriga a estar preparados para todas as situações. Uma manhã quente e solarenga com total ausência de vento pode transformar-se rapidamente numa tarde ensombrada por uma tempestade no deserto, que irá desafiar a nossa orientação, e dificultar a nossa progressão do ponto de vista físico e psicológico. 


E mesmo quando não esperamos que nada mais nos surpreenda, no meio de dunas bem assumidas, irrompe um conjunto de árvores tornando-se num excelente local para uma paragem para o almoço e uma pequena sesta abrigada do sol tórrido.


 A poucas centenas de metros de chegar ao destino, já com as dunas de Chigaga no horizonte, as quais podem chegar aos duzentos metros, encontra-se bastante diversidade de vegetação, prova do enorme contraste que pode existir numa distância reduzida.


Depois de tamanha variedade ao longo de escassos oitenta quilómetros no vasto deserto do Saara, deparei-me com aquilo que a minha imaginação esperava do deserto e que no fundo é apenas uma das ínfimas realidades de como ele se apresenta a nós. São estas dunas que me seduziram com os seus finos contornos serpenteados, a simplicidade da sua dualidade de tons e a criação de relevos ondulantes criados pelo vento. Era isto que esperava ver mas agora sei que existe muito mais.



No topo da duna mais alta nas proximidades, permaneci algumas horas contemplando a beleza e a serenidade que aquele local oferecia e alí apercebi-me que de todos os contrastes inerentes ao deserto o maior deles é a insistência, permanência e deslocação do ser humano nos últimos dois milénios neste vasto espaço, seja através de trocas comerciais, rotas de escravos, conquista de novas fronteiras ou simplesmente de viagens. 



2 comentários:

  1. Gostei imenso de ver a história desta viagem, muito bonito mesmo. Muito à frente...continua.

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    1. Obrigado Nelson :) É daquelas que guardamos muito bem na memória. Um abraço!

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