segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cidades submersas no Sudeste da Anatólia, Turquia: Halfeti e Hasankeyf (Parte 1)

No fim-de-semana passado estive a fazer vela, na zona do Alqueva, com um grupo de velhos e novos amigos. Abordou-se inevitavelmente o tema da construção da barragem e a forma como esta mudou bastante toda esta zona, que no fundo se estende por inúmeras dezenas de quilómetros. Se a forma como mudou esta parte do Alentejo a nível paisagistico é algo evidente, não tão evidente é a forma como mudou a vida das pessoas, especialmente as mais afectadas, como as que habitavam a famosa Aldeia da Luz.

No entanto, o tema que venho aqui apresentar desenrola-se no sudeste da Anatólia, na Turquia. Tal como o governo Português, a Turquia levou a cabo um plano megalómano nesta zona, criando 22 barragens de forma a gerar energia hidroeléctrica e canais de irrigação.

O projecto afectou oito províncias e dois rios históricos, o Tigres e o Eufrates.

As implicações foram enormes. Além das ecológicas e sanitárias (no caso da malária, que aumentou bastante), originou problemas políticos com a Síria e o Iraque que reclamam que a Turquia está a desviar uma quantidade de água bem superior aquela que devia. De resto, fez-me recordar o nosso Alqueva, também com sítios arqueológicos e inúmeras vilas e aldeias que ficaram submersas. No nosso caso, a Aldeia da Luz que obrigou ao repovoamento da população e à submersão do Castelo da Lousa.

Quando me desloquei do Curdistão Iraquiano para a Síria, passei as minhas duas últimas semanas pelo sul da Anatólia e ao procurar por um sítio calmo e tranquilo, aconselharam-me a deslocar para Halfeti e Hasankeyf, separadas entre sí por largas dezenas de quilómetros. Em Halfeti encontrei exactamente o que pretendia, mas também outra realidade. Metade da cidade encontra-se submersa, bem como inúmeros sítios arqueológicos e encontra-se bastante deserta, devido provavelmente ao impacto da barragem e ao repovoamento de parte da população.
Apanhei um barco para Rumkale, para visitar as ruínas de uma fortaleza bem lá no alto, que me deu umas vistas fantásticas sobre o Eufrates, com o acrescendo de ter apanhado um fabuloso pôr do sol. Rumkale, consiste em pouco mais que uma mesquita, uma igreja, um mosteiro e um poço.
Pedi ao condutor do barco para me levar um pouco mais à frente, até Savas, uma outra aldeia parcialmente inundada, que conta com um pormenor que a destaca, uma mesquita semi-submersa.

Existem poucos habitantes, e poucas infra-estruturas, nada de extraordinário. Mas no final de um dia bastante cansativo, nada bateu vários copos de çay (chá turco) num dos poucos cafés existentes, junto ao rio, intercalado de uns bons mergulhos no Eufrates, com este background espetacular. Senti que dificilmente esqueceria aquele momento, e curiosamente, no meio de 9 meses, aqui estou eu a recordá-lo.

De regresso a Halfeti, pediam-me dinheiro imenso para uma dormida, nas poucas opções existentes. Surgiram ainda umas ofertas de dormida, num barco-restaurante, que estaria disponível após o serviço terminar e outra com uns turcos com quem jantei nessa noite, mas quando olhei para o céu e vi uma belíssima noite estrelada, com um calor típico de inícios de Julho. Só me apeteceu dormir no banco de jardim. Ofereceram-me uma esponja, e tornou-se numa das mais inesquecíveis dormidas ao relento.


Halfeti.





Rumkale.

Savas.






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